terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cioran

Cioran (1911-1995)

"Após a publicação do 'Breviário' em espanhol, dois estudantes andaluzes me perguntaram se era possível viver sem fundamentación. Respondi-lhes que era verdade não ter encontrado nunca uma base sólida em lugar nenhum e, no entanto, ter conseguido subsistir porque, com os anos, a gente se habitua a tudo, até à vertigem. E depois não estamos despertos e não nos interrogamos o tempo todo, sendo a lucidez absoluta incompatível com a respiração. Se estivéssemos, a cada momento, conscientes do que sabemos, se, por exemplo, a sensação da falta de fundamento fosse ao mesmo tempo contínua e intensa, cometeríamos suicídio ou cairíamos na idiotia. Só existimos graças aos momentos em que esquecemos certas verdades, e isso porque durante esses intervalos acumulamos a energia que nos permite enfrentar as ditas verdades."

 Esse é um trecho de "Relendo...", texto em que Cioran -filósofo romeno que viveu na França- comenta a reedição, 30 anos depois, de seu primeiro livro escrito em francês, "Breviário de Decomposição", de 1949. O trecho está em "Exercícios de Admiração", de 1986, lançado no Brasil em 2000 pela Rocco.

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