terça-feira, 16 de agosto de 2011

Gérard de Nerval (1808-1855)



Homme, libre penseur! te crois-tu seul pensant
Dans ce monde où la vie éclate en toute chose?
Des forces que tu tiens ta liberté dispose,
Mais de tous tes conseils l'univers est absent.

Respecte dans la bête un esprit agissant:
Chaque fleur est une âme à la Nature éclose;
Un mystère d'amour dans le métal répose;
"Tout est sensible!" Et tout sur ton être est puissant.

Crains, dans le mur aveugle, un regard qui t'épie:
À la matière même un verbe est attaché...
Ne la fais pas servir à quelque usage impie!

Souvent dans l'être obscur habite un Dieu caché;
Et, comme un oeil naissant couvert par ses paupières,
Un pur esprit s'accroît sous l'écorce des pierres!


("Vers Dorés", de "Les Chimères", 1853.)

Giacomo Leopardi (1798-1837)



Quando fanciullo io venni
A pormi con le Muse in disciplina,
L'una di quelle mi pigliò per mano;
E poi tutto quel giorno
La mi condusse intorno
A veder l'officina.
Mostrommi a parte a parte
Gli strumenti dell'arte,
E i servigi diversi
A che ciascun di loro
S'adopra nel lavoro
Delle prose e de' versi.
Io mirava, e chiedea:
Musa, la lima ov'è? Disse la Dea:
La lima è consumata; or facciam senza.
Ed io, ma di rifarla
Non vi cal, soggiungea, quand'ella è stanca?
Rispose: hassi a rifar, ma il tempo manca.

("Scherzo", incluída em "Canti", 1831.)

Florbela - Frieza

Frieza


Florbela Espanca

Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
"Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!..."
__________________Livro de Soror Saudade - 1923

Cioran

Cioran (1911-1995)

"Após a publicação do 'Breviário' em espanhol, dois estudantes andaluzes me perguntaram se era possível viver sem fundamentación. Respondi-lhes que era verdade não ter encontrado nunca uma base sólida em lugar nenhum e, no entanto, ter conseguido subsistir porque, com os anos, a gente se habitua a tudo, até à vertigem. E depois não estamos despertos e não nos interrogamos o tempo todo, sendo a lucidez absoluta incompatível com a respiração. Se estivéssemos, a cada momento, conscientes do que sabemos, se, por exemplo, a sensação da falta de fundamento fosse ao mesmo tempo contínua e intensa, cometeríamos suicídio ou cairíamos na idiotia. Só existimos graças aos momentos em que esquecemos certas verdades, e isso porque durante esses intervalos acumulamos a energia que nos permite enfrentar as ditas verdades."

 Esse é um trecho de "Relendo...", texto em que Cioran -filósofo romeno que viveu na França- comenta a reedição, 30 anos depois, de seu primeiro livro escrito em francês, "Breviário de Decomposição", de 1949. O trecho está em "Exercícios de Admiração", de 1986, lançado no Brasil em 2000 pela Rocco.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Antonio Botto

Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
Não há bem que sempre dure,
E o meu, bem pouco durou.

Não levantes os teus braços
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
Vou deixar-te, vou partir!

E se um dia te lembrares
Dos meus olhos cor de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
Naquela tarde cinzenta!

Adeus!
Quem fica sofre, bem sei;
Mas sofre mais quem se ausenta!